O Novo Acordo Ortográfico: Simplificação ou Revolução na Escrita?
O novo acordo ortográfico, você já ouviu falar? Está meio perdido sobre como começar a estudá-lo?
Entendemos perfeitamente que se familiarizar com as normas do português e aplicá-las corretamente pode ser um desafio. Por isso, elaboramos um guia detalhado que desvenda todos os mistérios do novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.
Se o seu desejo é aprimorar sua escrita e alcançar seus mais altos objetivos, não deixe de nos acompanhar até o fim.
Explore conosco:
O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa representa um pacto global com o objetivo de padronizar a escrita deste idioma falado por milhões de pessoas em diversos países. Essa iniciativa visa a unificação ortográfica entre os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), incluindo nações como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.
Este acordo é denominado “novo” em referência a uma tentativa anterior de harmonização ortográfica entre Brasil e Portugal, datada de 1931, a qual, por fim, não foi implementada. Após esse episódio, diversas tentativas de consolidação ortográfica foram realizadas, sem sucesso, até a efetivação deste último acordo.
A trajetória até a ratificação do acordo incluiu a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945, implementada apenas em Portugal, seguida pela tentativa de unificação da escrita em 1986, que também não avançou. Foi apenas em 1990 que uma proposta formal, elaborada pelas academias de ciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras, foi apresentada, embora sem sucesso imediato.
Finalmente, após anos de negociações, em 2006, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde uniram-se ao Brasil na ratificação do acordo, encontrando resistência por parte de Portugal até 2008, quando o governo português finalmente concordou com a unificação ortográfica, promulgando o acordo que entrou em vigor no Brasil em janeiro de 2016, após um período de adaptação iniciado em 2008.
Com essa mudança, surgiram dúvidas e desafios na adaptação às novas regras, refletindo a magnitude da transformação na prática escrita da língua portuguesa entre os países signatários.
Para que Serve o Novo Acordo Ortográfico
O propósito fundamental do Novo Acordo Ortográfico visa à padronização da escrita do Português, anteriormente fragmentada nas variantes de Portugal e do Brasil. Essa divisão ortográfica entre as duas maiores nações lusófonas impunha barreiras à publicação unificada de textos, exigindo adaptações para cada versão do idioma. Com o intuito de superar essas barreiras, o acordo foi estabelecido para simplificar e homogeneizar a forma escrita da língua portuguesa, facilitando a comunicação e a disseminação de conteúdo escrito em âmbito global.
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Entendendo o Novo Acordo Ortográfico
As alterações introduzidas pela reforma ortográfica almejam aproximar a escrita do português entre os países que adotam o Português como língua oficial, sem, contudo, interferir na pronúncia ou na maneira como as palavras são faladas. É crucial compreender que o acordo incide exclusivamente sobre a ortografia, preservando as características fonéticas de cada variedade do idioma.
A seguir, abordaremos os principais conceitos e mudanças promovidas pelo acordo, esclarecendo como eles se aplicam na prática e facilitam a compreensão e o uso uniforme da língua portuguesa escrita.
Tonicidade da Sílaba
A sílaba tônica representa um elemento crucial tanto em avaliações acadêmicas, como concursos, vestibulares e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), quanto na arte de bem escrever. Dominar a identificação das sílabas tônicas nas palavras não apenas eleva seu desempenho em testes, mas também aprimora sua escrita de forma significativa.
No cerne de uma palavra, a sílaba tônica é aquela que se destaca por sua intensidade sonora. Importante salientar que a presença de acento gráfico não é uma constante para a sílaba tônica; ou seja, nem sempre a sílaba enfatizada na fala é marcada com acento na escrita.
Existe uma técnica simples para identificar a sílaba tônica: visualize-se proferindo a palavra em alto e bom som. A parte da palavra que você naturalmente pronuncia com mais ênfase, prolongando o som, indica a sua sílaba tônica.
Tomemos, por exemplo, a palavra “livro”. Ao exclamá-la vigorosamente, você tenderia a estender o som da primeira parte: “liiiiiiiivro”. Assim, percebe-se que “li” assume o papel de sílaba tônica.
Outro caso é a palavra “faculdade”. Ao eleva-la em voz alta, o som se estenderia mais em uma de suas partes, resultando em algo como: “faculdaaaaade”. Isso revela que a sílaba “da” é a tônica, demonstrando a importância desse conceito tanto para a oralidade quanto para a escrita correta das palavras.
No universo das sílabas tônicas, as palavras são divididas em três categorias principais, baseadas na posição de sua sílaba mais enfática, ou seja, a tônica. Vamos desvendar juntas essas categorias:
Proparoxítona, Paroxítona e Oxítona
Proparoxítonas: são aquelas palavras em que a antepenúltima sílaba é a mais proeminente. Um detalhe interessante é que todas as proparoxítonas recebem acento gráfico, seja ele agudo (´) ou circunflexo (^), justamente sobre a sílaba tônica. Imagine a palavra “lâmpada”. Ao pronunciá-la, a ênfase recai sobre a primeira sílaba: “LÂM-pa-da”. Outros exemplos incluem “máquina” e “círculo”, onde a força da voz se concentra na antepenúltima sílaba.
Paroxítonas: neste caso, a penúltima sílaba é que se destaca. Não é uma regra absoluta que todas as paroxítonas sejam acentuadas, mas certos casos específicos demandam acentuação, especialmente quando terminadas em certas letras ou combinações, como L, N, R, X, entre outros. Pense em “árvore”: a pronúncia enfatiza a penúltima sílaba “ÁR-vo-re”. A beleza da palavra “música” também reside na sua penúltima sílaba, assim como a solidez de “história”.
Oxítonas: por último, mas não menos importante, temos as oxítonas, onde a última sílaba é a rainha da pronúncia. Diferentemente das paroxítonas, as oxítonas possuem regras mais diretas para a acentuação, geralmente acentuadas quando terminam em A, E, O, seguidos ou não de S, ou em EM, ENS. “Café” é um exemplo clássico, onde a última sílaba chama toda a atenção: ca-FÉ. Da mesma forma, “paixão” e “dominó” ilustram perfeitamente a beleza das oxítonas, com a última sílaba vibrando em nossa fala.
Ditongo
Ditongo é um termo que se refere a uma ocorrência específica na língua onde duas vogais são pronunciadas juntas dentro de uma mesma sílaba, formando uma união harmoniosa de sons. Esse fenômeno faz parte do que chamamos de encontro vocálico, um conceito que abrange também o hiato e o tritongo, cada um com suas particularidades.
O ditongo é especialmente relevante por sua presença frequente em nossa fala e escrita, marcando a língua com sua diversidade sonora. Ao compreender os ditongos, você ganha uma chave importante para desvendar algumas das mudanças trazidas pelo novo acordo ortográfico, facilitando a adaptação às regras atualizadas.
Para ilustrar melhor, vamos a alguns exemplos mais elucidativos: a palavra “pai” exemplifica um ditongo crescente, onde a semivogal vem antes da vogal principal na pronúncia. Já em “leite”, temos um ditongo decrescente, com a vogal principal seguida de uma semivogal. Outro exemplo interessante é “série”, que mostra como os ditongos podem ser sutis, mas igualmente significativos na formação das palavras.
Desvendando as Atualizações do Novo Acordo Ortográfico
As atualizações introduzidas pelo novo acordo ortográfico na língua portuguesa incluem diversas alterações significativas, entre as quais destacam-se:
- A adição de novas letras ao alfabeto;
- A eliminação da trema;
- Modificações nas regras para consoantes não pronunciadas;
- Revisões nas normas de acentuação;
- Novas diretrizes para o emprego do hífen.
Embora essas atualizações possam inicialmente parecer complexas, não há motivo para preocupação. Arme-se com uma caneta e papel para anotar os pontos principais, pois vamos detalhar cada uma dessas modificações para facilitar sua compreensão.
Atualização do Alfabeto
Expansão Alfabética
Anteriormente à reforma ortográfica, o alfabeto da língua portuguesa contava com 23 caracteres. Com a introdução do novo acordo, esse número aumentou para 26, incorporando as letras K, W e Y, antes consideradas estrangeiras. A nova configuração alfabética agora é: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W, X, Y, Z. Essas adições permitem a utilização dessas letras em diversas instâncias, como nomes próprios, termos estrangeiros adotados no português (como “download”, “workshop”, e “playground”), além de variantes ortográficas como “kilo” e “kilômetro”.
Eliminação da Trema
Adeus à Trema
O novo acordo ortográfico aboliu o uso da trema (¨), que sinalizava a pronúncia do “u” em sequências como “qüe” e “qüi” em palavras da língua portuguesa ou adaptadas. Palavras como “frequência”, “delinquente”, “cinquenta”, “consequência”, e “tranquilo” perderam este sinal indicativo de hiato. Contudo, a trema ainda se faz presente em nomes estrangeiros próprios, como “Bündchen” e “Müller”.
Revisão das Consoantes Mudas
Consoantes Mudas: Mudanças Aplicadas
O tratamento das consoantes mudas sofreu ajustes pelo novo acordo, determinando a manutenção, exclusão ou opcionalidade de certas letras em palavras compostas por grupos consonantais como cc, cç, pc, pç, e pt. Em palavras como “compacto”, “rapto”, e “adepto”, as consoantes são pronunciadas e, portanto, mantidas. A reforma resultou na alteração de palavras com consoantes não pronunciadas, modificando, por exemplo, “afectivo” para “afetivo”. Algumas palavras apresentam agora dupla grafia, como “fato” e “facto”.
Simplificação do Acento Diferencial
Acento Diferencial: Simplificação
O uso do acento diferencial foi simplificado, deixando de ser aplicado a palavras homógrafas paroxítonas, as quais diferem em significado conforme a abertura da vogal tônica. Assim, palavras como “pára” (verbo) transformaram-se em “para”, “pêlo” em “pelo”, e “pólo” em “polo”. Entretanto, manteve-se o acento diferencial em casos específicos para distinguir nuances de significado, como em “pôr” versus “por” e “pôde” versus “pode”.
Revisão no Uso do Hífen
O Hífen: Novas Diretrizes
O emprego do hífen talvez seja um dos aspectos mais complexos trazidos pela reforma, gerando dúvidas frequentes. As regras foram atualizadas para clarificar o uso do hífen em palavras com prefixo ou falso prefixo, seguindo três diretrizes principais:
- Ausência de Hífen com Vogal Diferente: Não se usa hífen quando o prefixo (ou falso prefixo) termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente, como em “autoajuda” e “semiárido”.
- Presença de Hífen com Mesma Vogal: Aplica-se o hífen quando o prefixo termina e o segundo elemento começa com a mesma vogal, como em “micro-ondas” e “anti-inflamatório”.
- Compostos sem Noção de Composição: Em certos compostos que perdem a noção de composição, o hífen é omitido, como em “paraquedas” e “mandachuva”. Porém, permanece em termos compostos que formam uma unidade semântica, exemplificados por “beija-flor” e “erva-doce”.
Em conclusão, as reformas introduzidas pelo novo acordo ortográfico da língua portuguesa representam um passo significativo em direção à padronização e simplificação da escrita em todos os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). As mudanças, abrangendo desde a expansão do alfabeto até a revisão das regras de acentuação e uso do hífen, visam facilitar o intercâmbio cultural, acadêmico e literário entre as nações, reforçando a identidade lusófona e promovendo uma maior coesão entre os falantes do português.
Embora inicialmente possam parecer desafiadoras, essas alterações são fundamentais para uma escrita mais coerente e unificada. É importante que educadores, estudantes, profissionais da escrita e falantes do português de modo geral busquem compreender e aplicar corretamente as novas regras, adaptando-se às mudanças para garantir a clareza e a precisão na comunicação escrita.
A adaptação ao novo acordo ortográfico é um processo contínuo de aprendizado e atualização. Recursos educacionais, ferramentas digitais e materiais de referência atualizados são indispensáveis para auxiliar nessa transição, permitindo que todos os usuários da língua portuguesa possam navegar pelas nuances das novas normas com confiança e facilidade.
Portanto, mais do que simplesmente memorizar regras, é fundamental compreender o espírito por trás do acordo: a busca por uma língua portuguesa mais acessível, lógica e universalmente reconhecida, que reflita a riqueza e a diversidade da comunidade lusófona no século XXI.